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Lisboa, 1580. A cidade e o país vivem uma época de grande agitação política após a morte do rei D. Sebastião e a crise de sucessão. A capital é uma cidade portuária fervilhante de comerciantes, espiões e aventureiros. O Brasil, colónia distante, é terra de promessas e perigos, onde os interesses portugueses e estrangeiros se cruzam. O sucessor do rei morto é uma incógnita. Não há herdeiro direto e a ameaça de Portugal perder a independência é cada vez mais real.  

Beatriz de Noronha espreita pela janela do seu quarto e observa as ruas movimentadas, não apenas com portugueses, mas também com comerciantes de outros países europeus e muitos escravos, que transportam água de porta em porta, carregam mercadorias e efetuam os trabalhos mais pesados. 

O seu rosto perdeu a alegria que a caraterizava. O pai morrera, na Batalha de Alcácer Quibir, onde o exército português tinha sido dizimado e o rei desaparecera. E a mãe, que sempre vivera uma paixão sem limites por ele, soçobrara perante a sua morte e só tinha encontrado refúgio e serenidade com os efeitos de uma corda colocada ao pescoço, no quarto em que vivera uma paixão sem limites com o único homem que amara ao longo de toda a vida. 

Num curto espaço de tempo, Beatriz perdeu o pai e a mãe e foi viver para casa de um tio, D. Sebastião de Noronha, viúvo, que sempre lhe parecera sinistro. Pouco tempo depois, foi informada pelo tio que este lhe tinha arranjado um casamento com um grande amigo dele e que tinha idade para ser seu pai. Quando o conheceu, sentiu uma profunda aversão por ele e prometeu a si mesma que nunca aceitaria o casamento, embora soubesse que a obediência às ordens do seu tio dificilmente a libertariam desse calvário. 

O seu noivo, D. Francisco de Mendonça, era visita regular ao palacete de D. Sebastião e eles ficavam horas fechados na sala a conversar. Nessa noite, o ritual repetiu-se. Francisco fora jantar lá a casa e Beatriz teve de suportar a sua presença e os seus olhares lascivos sobre o decote generoso que expunha a parte superior dos seus seios. Depois do jantar alegou que estava com uma enorme dor de cabeça e subiu ao seu quarto. Deitou-se, mas não conseguia adormecer e, duas horas depois desceu para beber água. Ouviu vozes na sala e achou estranho que D. Francisco ainda lá estivesse. Aproximou-se sem fazer ruído, pés descalços pisando o chão frio e ouviu a conversa pela porta entreaberta. 

- A máscara vai ser entregue ao padre Inácio Mendes, que a levará no navio até ao Brasil. Aí será entregue a D. Martim de Viana. 

- É de confiança, esse padre? 

- Não! Mas está a par de tudo, conhecia o francês que morreu e a história que envolve a máscara de Tupã! Não havia volta a dar… 

- Percebo. Mas não deixa de ser um risco. Imagina que ele decide não a entregar a D. Martim e ficar com ela. 

- Eu sei… a tentação é grande! Por isso é que irá embarcar um homem da minha confiança que fará a viagem na nau Esperança e o vigiará. O padre sabe que esse homem vai estar por perto, mas não sabe quem é. Irá disfarçado de elemento da tripulação ou de passageiro. Assim, estará sempre receoso de estar a ser vigiado.  

- Parece-me uma boa ideia. Não confio nada nesse padreco. 

- Nem eu! É um reles aproveitador que se meteu na igreja só para enriquecer e ter poder. Acho que tem menos fé que os ratos que andam por aqui pela cozinha… 

Francisco deu uma gargalhada. 

- Amanhã este meu homem de confiança vem cá a casa ao fim do dia para receber as últimas instruções. O navio parte à noite e o capitão já está avisado que irá receber um homem mandado por mim com ordem para ter camarote pessoal durante a viagem. É o único que sabe disto, mas não sabe o motivo da sua viagem. 

- E não achou estranho o pedido? 

- Possivelmente. Já o conheço há alguns anos, chama-se Diogo Corte-Real. Dei a entender que esse homem que vai embarcar se meteu em sarilhos de saias, foi apanhado a foder a mulher de um importante nobre e corre o risco de o marido cornudo querer ajustar contas com ele. A solução para ele é fugir do país e ir para o Brasil. 

- Bom, pelo que vejo está tudo preparado. 

- Sim. Amanhã à noite a máscara de Tupã sai cá de casa e ruma ao Brasil. Confesso que me sinto aliviado. Aquilo dá-me arrepios.  

- E depois só temos de esperar pelas notícias de D. Martim de Viana.  

- Exato! Quem sabe se o falecido rei D. Sebastião não terá como sucessor um outro Sebastião! 

- Deus te oiça! Bom, está na hora de ir embora. Temos de combinar o casamento com Beatriz! 

- Pois temos. Estás desejoso de a meter na tua cama, não estás? 

- Confesso que sim, aquelas mamas deixam-me louco, só de imaginar a minha boca a chupá-las ficou com um pau de todo o tamanho. 

- Eu entendo. Apesar de ser minha sobrinha, não sou cego. Deve ser uma boa foda na cama… terás de me contar depois, quando a desflorares!  

- Eu conto… com todos os detalhes! 

Beatriz recuou, horrorizada com o que acabara de ouvir. Subiu as escadas para o seu quarto e meteu-se na cama. Definitivamente, aquele casamento não podia acontecer. 

Passou a noite praticamente em branco. Mas a insónia acabou por lhe permitir começar a delinear um plano. Parecia-lhe perigoso, de consequências imprevisíveis caso corresse mal. Mas estava decidida a fazer algo para mudar o que estava escrito para o seu futuro. 

*** 

No dia seguinte foi ter com Mafalda, uma criada que a tinha acompanhado desde pequena e por quem nutria um forte sentimento, quase como se fosse sua segunda mãe. Era a única que conhecia as suas angústias e que sabia o pânico que ela tinha em ter de casar com D. Francisco. Sabia que podia contar com a sua lealdade total e, por isso, decidiu que iria revelar-lhe o seu plano e pedir a sua ajuda. 

Encontrou-a na cozinha e pediu-lhe para ir ter com ela ao seu quarto mal pudesse. Mafalda viu a urgência no seu olhar e, menos de meia hora depois, subiu as escadas e bateu à porta dos aposentos de Beatriz. 

- Entra! 

- O que se passa menina? – perguntou preocupada Mafalda. 

- Senta-te aqui ao pé de mim e ouve-me. Ouve tudo o que tenho para te dizer. Vou precisar da tua ajuda ou então terei de seguir o exemplo da minha mãe. 

- Jesus, credo! – disse Mafalda benzendo-se. – Não diga uma coisa dessas, por favor. 

- Eu não vou casar com Francisco. Antes morrer. Ontem ouvi-o conversar com o meu tio e estavam a falar de mim, como se eu fosse gado que iria ser montado pelo meu futuro marido, com o meu tio a dizer que queria saber todos os detalhes de quando fosse desflorada!  

- Meu Deus! Que porcos… 

- Sim. Por isso vou fugir!  

- Fugir, menina? Fugir como? Isso é uma loucura… 

- Pois é. Mas entre a loucura e a morte, acho que prefiro a primeira… 

Mafalda manteve-se em silêncio. 

- Ouve-me bem. Hoje ao fim da tarde D. Sebastião vai receber aqui um homem da sua confiança que vai embarcar esta noite num navio para o Brasil. O que eu quero que faças é que lhe ofereças algo para beber no final da conversa. Colocas aquele pó que sabes na bebida para que ele fique inconsciente.  

- Mas… e se ele não quiser beber nada? 

- Mafalda, vou ter de te pedir um sacrifício grande. És uma mulher bonita e que consegue ter um enorme efeito nos homens. Podes insinuar-te junto dele, tu sabes como fazer. Não será difícil levá-lo para as traseiras e prometer-lhe uns momentos de prazer antes de embarcar. E não será difícil convencê-lo a beber um copo de bom vinho. O que é preciso é que ele fique inconsciente algumas horas, até o navio partir. 

- E para quê, menina? 

- Porque eu quero que me arranjes roupas de homem que me sirvam. Três ou quatro mudas. Vou disfarçar-me de homem e vou embarcar fazendo-me passar por ele. O capitão sabe que irá embarcar um homem da confiança de D. Sebastião, mas não sabe quem é. Vou ser eu! 

- Mas isso é muito perigoso. Mesmo que consiga embarcar, pode ser descoberta durante a viagem. Uma mulher clandestina a bordo! Nem sei o que lhe poderão fazer os marinheiros, esfomeados de mulher por tantos dias no mar. 

- Mafalda, ouve-me bem. Qualquer desfecho será melhor do que o casamento que tenho marcado. Não vais conseguir demover-me. Apenas quero que me ajudes, por alma da minha mãe e do meu pai. 

Mafalda agarrou-lhe as mãos e sentiu que uma lágrima lhe escorria pelo rosto. 

- Menina… já perdi os seus pais que me tratavam como se fosse da família. Não queria perdê-la também. 

- Não me vais perder. Se as coisas correrem bem, quem sabe eu no Brasil não refaço a minha vida e não te mando ir para junto de mim. 

- Credo menina… meter-me pelo oceano dentro é coisa que me assusta. 

- E não valia a pena passares esse tormento para voltarmos a estar juntas? 

Mafalda baixou a cabeça e, segundos depois, olhou para Beatriz com um sorriso triste. 

- Se calhar valia, menina. Vou ajudá-la. Vou arranjar as roupas que me pediu e depois vou seduzir o homem para o levar a beber. Espero que não seja um corcunda cheio de bexigas! 

Beatriz riu-se. 

- Obrigado, amiga. E olha que estava a falar a sério sobre ires ter comigo. Fica a aguardar notícias minhas, e reza por mim. Vou precisar… 

Duas horas depois, Mafalda regressou ao quarto com as roupas. Mariana experimentou uma delas. Teve de colocar uma faixa de pano em redor do peito, pois os seus seios eram generosos e, estando soltos, o volume não passava despercebido. Mafalda cortou-lhe o cabelo e, no final, podia passar por um jovem rapaz imberbe. Sabia que, nos navios, iam vários jovens como grumetes, os aprendizes de marinheiros, que acabavam por desempenhar as tarefas mais duras a mando dos mais velhos. Não seria então o único rapazola aventureiro a bordo. 

Quando entardeceu, Beatriz desceu sorrateiramente e dirigiu-se para uma pequena casa de madeira no jardim, que servia de arrecadação. Era aí que Mafalda se deveria dirigir com o homem para o levar a beber.  

Entretanto em casa, Sebastião aguardava pela chegada daquele que teria como função vigiar todos os movimentos no padre Inácio, quer dentro do navio, quer quando desembarcassem em terras brasileiras, até ter a certeza de que a máscara era entregue ao inquisidor D. Martim Viana. 

Quando finalmente ele chegou, reuniram-se os dois na sala. D. Sebastião entregou-lhe um saco com moedas, metade do pagamento que iria receber pelo serviço. O restante seria pago quando voltasse. Despediram-se e D. Sebastião veio à porta da sala. Viu Mafalda que, de forma aparentemente ocasional, estava por ali. 

- Mafalda, conduz este senhor à porta. Boa voagem, meu caro. Espero rever-te em breve, 

- Obrigado, D. Sebastião. Até breve. 

Mafalda acompanhou-o à porta. Viu que D. Sebastião se recolhia para dentro da sala e olhou com um sorriso para o homem ao seu lado. 

- Então vai fazer uma viagem. 

- Vou até ao Brasil. 

- Grande viagem… não tem medo de entrar assim no mar? 

- Medo não. Respeito sim.  

- Poso oferecer-lhe um copo de vinho como presente de despedida? 

Ele parou e olhou-a, espantado pela oferta. Mafalda percebeu que estava na dúvida e levou a mão à blusa, desapertando dois botões que lhe expuseram parte do peito. 

- Vai estar muito tempo no mar, sem mulher… e parece-me um homem quente…  

Ele olhou em volta, para ver se mais alguém estava por perto. 

- Esse seu peito, de facto, aqueceu-me… 

Mafalda desapertou mais dois botões e os mamilos surgiram, rosados, bicos salientes. 

- Venha comigo. Vamos fazer a despedida antes de embarcar. 

Conduziu-o para a cozinha, ainda vazia, já que o jantar só começaria a ser preparado mais tarde, agarrou numa garrafa colocada em cima de uma prateleira e saiu com ele para o jardim. 

- Vamos até ali, junto do barracão. Tome. Vinho do bom, daquele que D. Sebastião bebe. 

Ele agarrou na garrafa e colocou-a na boca. Bebeu vários golos e apalpou o rabo de Mafalda que seguia à sua frente. Ela deu uma risada e caminharam até à porta da casa de madeira onde Beatriz estava escondida. 

- Depois de beber este vinho, agora o que apetece é chupar essas mamas! – disse ele agarrando-a e enfiando uma das mãos por baixo da roupa, em busca do seu peito. 

Mafalda ia fingindo uma resistência não muito eficaz e ele entusiasmou-se. Bebeu mais um pouco e agarrou-lhe na saia, fazendo-a subir. Ela não tinha nada por baixo, já imaginando que ele a quereria ver. 

- Oh, que linda! Acho que antes de entrar no navio vou entrar nessa cona.  

Por uns segundos ele cambaleou e a visão ficou turva. Abanou a cabeça. 

- Estou tonto… deve ser de ter assim uma mulher como tu a querer ser fodida por mim. 

- Deve ser isso… - confirmou Mafalda. – Bebe mais um pouco e depois podes foder-me aqui na relva. Queres? 

- Claro que quero! – respondeu, ingerindo mais vinho.

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