top of page

Encheu a banheira, despiu-se e entrou na água. Aspirou o odor a eucalipto que se insinuara pela atmosfera da casa de banho em resultado das gotas de óleo que espalhara pela água e fechou os olhos. Há três meses que Mariana vivia sozinha, num apartamento na zona dos Anjos, em Lisboa. Três meses na capital, num apartamento grande demais para uma só pessoa, mas que lhe caíra do céu no momento certo. 

Tinha feito há duas semanas vinte anos e a sua vida parecia estar escrita para ser vivida em Beja, onde morava com os pais. Depois de concluir o décimo segundo ano, hesitara sobre que percurso seguir. Sabia que os pais, donos de um café, gostariam que ela continuasse os passos da família e assumisse funções nesse estabelecimento. Afinal, era filha única e garante exclusivo de que o negócio se manteria na família. No entanto, Mariana não encarava com entusiasmo essa possibilidade.  Imaginar a sua vida atrás de um balcão de café, aturando clientes nem sempre simpáticos e educados, deixava-a deprimida. Sonhava conhecer outros sítios, ir para a capital e prosseguir os estudos na área das línguas e literatura. Mas era um sonho muito difícil de concretizar, sobretudo porque o alojamento em Lisboa atingia valores pornográficos e ela não se sentia à vontade para pedir aos pais esse esforço financeiro. O café permitia-lhes ter uma vida sem dificuldades, mas não era suficiente para grandes lucros. Por isso, o café ia-se tornando, cada vez mais, o porto de abrigo do seu futuro. 

Esticou o braço e agarrou na esponja. Derramou um fio de gel sobre ela e colocou-se de joelhos dentro da banheira. Começou a esfregar suavemente a esponja pela pele do corpo molhado. Pressentiu a luta entre o odor a eucalipto que esvoaçava e o odor a laranja, do gel que lhe ia pintando o corpo em tons de espuma de branco à passagem da esponja pelo seu pescoço, pelos seus seios, braços, barriga, ventre e coxas. Aquela esponja sabia-lhe bem, sobretudo quando tocava em certas partes mais sensíveis do corpo, e ela, instintivamente, demorava-se aí um pouco mais, desfrutando... 

Voltou a deitar-se na banheira.  As recordações recuaram até ao jantar daquele dia em que os pais lhe disseram que tinham de conversar sobre um assunto sério. Ela ficou assustada, imaginou alguma doença grave no pai ou na mãe, o anúncio do seu divórcio (assunto completamente absurdo, pois os pais pareciam uns eternos namorados), ou qualquer outra situação dramática. Mas, afinal, o assunto não tinha nenhuma dessas caraterísticas. Quase conseguia ouvir a voz do pai: 

- Lembras-te do tio Manuel? 

- Vagamente... 

- É normal, ele vivia há muitos anos em França. Nunca casou, não teve filhos, fez alguma fortuna e morreu. 

- Morreu? Não fazia ideia! 

- Nem nós. Perdemos o contacto, apesar de eu ser o seu único irmão. O tempo faz destas coisas. Não que nos tivéssemos zangado. Ele era pouco sociável, um eremita dos tempos modernos, gostava de viver assim. Mas enfim, estou-te a falar disto porque ele, antes de morrer, fez um testamento. E deixou-te uma coisa em testamento. 

- A mim?  

- Sim...  

- Mas porquê a mim? 

- Porque, no fundo, apesar da distância e do afastamento, gostava de ti. Gostava do irmão, da cunhada e da sobrinha. A mim e à tua mãe deixou-nos um terreno e a ti deixou-te uma casa. 

- Uma casa? Uma casa aqui em Beja? Ele tinha uma casa cá? 

- Não. Deixou-te uma casa em Lisboa! Acabas de te tronar proprietária de um apartamento na Avenida Almirante Reis. 

Aquela notícia teve um efeito de uma pedra que cai no lago de águas estagnadas. Sobretudo porque a minha mãe entrou na conversa: 

- Podes cumprir o teu sonho de ir para Lisboa fazer os estudos com que sempre sonhaste! 

Eu olhei-a sem saber o que dizer. Estava ciente que aquela frase era uma sentença de morte em relação ao sonho dela e do meu pai em ver-me a prosseguir o negócio de família. Como se lesse os meus pensamentos, ela sorriu-me: 

- Tu sabes que nós gostávamos imenso de te ter aqui, junto de nós. Que a ideia de saíres de Beja para Lisboa nos assusta. Afinal, és a nossa menina, e ter-te aqui, sob a nossa asa, deixa-nos seguros. Mas a tua vida não deve ser comandada pelos nossos desejos, deves ser tu a pegar no leme do teu futuro. 

Mariana começou a sentir a água arrefecer. Levantou-se e ligou o chuveiro, deixando que a água quente expulsasse a espuma do seu corpo. Depois daquela notícia completamente inesperada, tudo mudara. Tivera de tratar de todos os assuntos legais, viajara com os pais para Lisboa e ficara a conhecer o apartamento, numa zona da cidade ultra movimentada e simpaticamente decadente. O prédio era antigo, sem elevador, com umas escadas relativamente estreitas até ao segundo andar. Mas o apartamento estava em excelentes condições, pronto a ser habitado sem necessidade de quaisquer obras. Dois quartos, uma sala, uma cozinha e uma casa de banho. As divisões eram generosas e Mariana percebeu que tudo iria mudar. Tinha agora as condições para poder concretizar o seu sonho. Os pais assumiram as despesas dos seus estudos e do necessário para a sua sobrevivência e ali estava ela, ao fim de três meses, a frequentar a Licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade Nova! 

Saiu do banho e secou-se. Enrolou-se na toalha e colocou-se em frente ao espelho, para se pentear. Apesar de estarmos no início de janeiro, as temperaturas em Lisboa estavam amenas e o sol tinha brilhado todo o dia, fazendo troça do inverno. Olhou para o relógio. Eram quase seis da tarde. Daí a uma hora, iria receber um candidato a alugar um dos quartos da casa. Tinha pensado muito nessa possibilidade, seria uma forma de aliviar os pais passando a ter, ao fim do mês uma quantia simpática que iria cobrir parte das despesas. Inicialmente, essa ideia não a entusiasmou, mas a verdade é que tinha uma casa grande só para si e poder ter alguma companhia também começou a ser algo que lhe agradava. Sempre tinha imaginado alugar o quarto a uma mulher, mas teria de ser alguém em quem pudesse confiar minimamente. Mas há duas semanas, em conversa com uma colega de curso, ela falara-lhe de um primo que andava desesperado há procura de um quarto e não estava a conseguir, pelos preços exorbitantes que lhe pediam. Mariana e essa colega tinham simpatizado uma com a outra e Mariana já fora, inclusivamente, jantar a casa dela tendo conhecido os pais.  

Depois dessa conversa e sendo um familiar da sua amiga, Mariana acabou por lhe dizer para ele ir lá a casa e conversarem. Ainda não contara aos pais, queria primeiro ver se as coisas avançavam. Eles iriam ficar um pouco preocupados por ela partilhar a casa com outra pessoa, mas sendo um familiar de uma amiga, talvez encarassem o assunto com alguma abertura. 

Dirigiu-se à sala. O fim de tarde começara a assentar arraiais e o Sol deixara de brilhar. Acendeu a luz e olhou em volta. Ainda lhe custava a acreditar que era a dona daquele apartamento! O sistema de aquecimento central mantinha o ambiente agradável, imune ao frio que se ia instalando lá fora pela partida do Sol. Desenrolou a toalha e lançou-a para cima do sofá. Espreguiçou-se e olhou de relance pela janela. A cortina estava aberta e sentiu um calafrio ao ver que no prédio em frente, onde funcionava uma pensão, um homem olhava na sua direção. Deveria ser um hóspede que estava à janela e a observava.  

O seu primeiro impulso foi o de se afastar do ângulo de visão daquele homem, mas sem saber porquê hesitou. Pegou no comando da televisão, que estava numa mesa junto dela e fingiu estar concentrada a ligar o aparelho e a escolher um qualquer programa. Não olhou diretamente para ele, queria que ele pensasse que ela não o tinha visto. "O que estás a fazer?”, disse em voz baixa. Mas o calor que sentia entre as coxas por estar assim a expor-se, sobrepunha-se à vontade de sair dali. Esteve assim uns dois ou três minutos, permitindo que ele observasse todo o seu corpo nu. Depois decidiu que tinha de parar. Dali a pouco chegaria o candidato a hóspede e tinha de se vestir. Deu uns passos finais passando em frente da janela e pegou no telemóvel. Fingiu que estava a teclar e caminhou de frente para o homem, em direção à janela. Nessa posição ela oferecia-lhe uma visão de nu integral do seu peito e do seu sexo. Percebeu que os mamilos estavam bem espetados, e que não era certamente do frio do apartamento... 

Com o rosto baixo, como se estivesse a olhar fixamente para o ecrã do telemóvel, tentou olhar de forma dissimulada para ele. O voyeur continuava por lá, meio tapado pela cortina do quarto da pensão. Não teve a certeza, mas pareceu-lhe que essa cortina se movimentava ao nível da sua cintura, como se ele se estivesse a masturbar, o que a fez ficar com a garganta seca.  

Acabou por se afastar e entrou no quarto. A janela do quarto estava virada na mesma direção da janela da sala, mas tinha as cortinas corridas. Mariana teve pena que não estivessem abertas, pois poderia continuar a exibir-se enquanto se vestia. E também não fazia sentido ir abri-las agora, iria dar muito nas vistas.  

Lançou-se sobre a cama e colocou uma mão entre as coxas. Aquilo tinha-a excitado! Tinha-a excitado muito! O dedo indicador procurou o botão na junção superior dos lábios húmidos e acariciou-o. Com a outra mão afagou o peito e beliscou os mamilos eretos. Fechou os olhos e deixou-se ir na corrente de um desejo que aquele olhar tinha ativado. Enfiou o dedo médio no sexo e sentiu a textura macia do interior do seu corpo. Não foi difícil conduzir o corpo ao orgasmo. Gemeu de forma prolongada quando se veio, com a sua cintura a movimentar-se de forma acelerada para cima e para baixo. Saboreou as contrações em volta do dedo que mergulhara bem fundo no sexo e engoliu em seco, enquanto a sua respiração ofegante se ia lentamente estabilizando. 

Quando o ciclone sensorial se desvaneceu, retirou o dedo e chupou-o. Gostava do sabor que o seu corpo emanava quando se vinha, mesmo tendo a ideia de que talvez não fosse muito habitual alguém ter gosto por se provar assim... 

Levantou-se e vestiu uma cuequinha vermelha e uns jeans apertados. Olhou-se ao espelho da cómoda. Ficava bem sensual assim, só de jeans e em topless. Tinha um corpo bem feito, seios generosos e mamilos escuros. Perguntou-se se o voyeur ainda estaria por lá e dirigiu-se à sala assim. Colocou-se no ângulo de visão da janela da pensão, mas as cortinas estavam fechadas. Sentiu-se desiludida!  

Acabou por fechar as cortinas e imaginou-o na cama do quarto, naquele momento, a masturbar-se enquanto recordava o seu corpo nu exposto. Sorriu e abanou a cabeça. 

- Então Mariana! Estás-te a passar! O que é que aconteceu aqui!  

Voltou ao quarto e procurou uma camisola. Escolheu uma branca, de gola alta e justa ao corpo e abriu a gaveta onde guardava os sutiãs. Retirou um, também branco, mas quando se preparava para o vestir parou e deixou-o cair na cama. Agarrou na camisola e vestiu-a. Olhou-se ao espelho. A peça colava-se às curvas do seu corpo e deixava perceber que não tinha mais nada por baixo. Não era uma peça transparente ou indiscreta, mas deixava-a com um ar levemente provocador por insinuar a nudez por baixo dela.  

Voltou à sala, ligou o Spotify da televisão e deixou que uma música calma preenchesse o silêncio da sala, através do fantástico sistema de som que o seu tio lhe deixara fazendo parte do recheio da habitação. 

Eram sete em ponto quando a campainha tocou. Mariana levantou-se do sofá e foi abrir a porta. À sua frente estava um homem mais ou menos da sua idade. Cabelos pretos encaracolados, vestia uns jeans e um casaco grosso castanho-escuro. Sorriu-lhe, dizendo: 

- Olá. Sou o Tomás, o primo da Clara. 

- Mariana! Prazer!... Entre. 

Afastou-se para o deixar passar e fechou a porta. Apontou para um dos sofás. 

- Pode sentar-se! 

- Obrigado. 

Simpatizou com ele. Tinha um sorriso largo. 

- Então anda à procura de um quarto... 

- Sim. Mas não está fácil. Os preços que pedem são incomportáveis para as minhas possibilidades. Quando a Clara me referiu esta hipótese, confesso que aceitei vir cá, mas sem criar grandes expetativas. Ainda por cima, pelo que vejo, o apartamento tem condições fantásticas! - disse, olhando em volta. 

- Sim, o apartamento está em muito bom estado! Mas também não vale a pena desistir antes de conversarmos. Basicamente procuro ganhar algum dinheiro tendo um hóspede, que me ajude a equilibrar as finanças, mas sei que as coisas não estão fáceis para ninguém. Posso mostrar-lhe o quarto, se quiser. 

Tomás hesitou, antes de falar. 

- Se não se importa, antes de ver o quarto, gostaria de saber as condições... é que se estiverem fora do meu alcance não vale a pena ir ver esse quarto. Imagino que seja excelente, pelo que vejo aqui, e se não vir não fico com tanta pena caso não se concretize o acordo. 

Mariana sorriu. 

- Ok, percebo. Quer beber alguma coisa enquanto falamos, então? Uma cerveja? 

- Pode ser, obrigado. 

Levantou-se e dirigiu-se à cozinha. As primeiras impressões deste candidato a hóspede tinham sido agradáveis. Voltou à sala com duas garrafas de cervejas e entregou-lhe uma. Percebeu que, num relance, o olhar dele se deteve momentaneamente no seu peito. Já se dera conta de que a camisola era a única peça que ela estava a vestir. 

- Se tiver calor pode tirar o casaco! - convidou Mariana. 

- Obrigado! - Respondeu Tomás, aceitando o convite. 

Sentaram-se os dois, com ele na expetativa. 

- Eu sei que muito dificilmente se conseguem encontrar quartos em Lisboa abaixo dos 400, 450€, muitos deles cubículos em que as pessoas mal se podem mexer. Para ser o mais direta possível, eu proponho uma mensalidade de 300€. Pode fazer uso de todo o apartamento, usar a cozinha sem problemas, a sala... Só cá vivo eu, acho que não haverá dificuldade em gerirmos o espaço entre os dois. 

- É um valor abaixo do que me têm pedido. 

- Quer ver o quarto? 

- Ok... 

Mariana levantou-se e pareceu-lhe que o olhar dele voltou a interessar-se pelo seu peito. Percebeu que o relevo dos mamilos não era muito discreto, mas nada podia fazer em relação a isso nesse momento. 

Dirigiram-se ao quarto e ela abriu a porta dando-lhe passagem. 

- Entre! O interruptor é do lado esquerdo, 

Tomás acendeu a luz e olhou em volta. 

- Que ótimo aspeto! Acho que não vou hesitar em fechar negócio consigo! 

- Boa! - reagiu Mariana com um entusiasmo que tentou conter. 

- Quando poderia mudar? 

- Quando quiser. Está vazio, à sua espera! 

- Que bom!  

Voltaram à sala e sentaram-se a combinar todos os detalhes. A determinada altura, Mariana olhou-o, dizendo. 

- Se vamos partilhar este espaço, acho que poderíamos começar a tratar-nos por tu... 

- Concordo! A minha prima tinha razão! 

- Razão? Em quê? 

- Ela disse-me que certamente iriamos chegar a acordo e que eras bastante simpática. 

Mariana deu uma gargalhada e Tomás tentou não olhar de forma muito indiscreta para os movimentos do peito dela enquanto se ria, 

Combinaram então que ele se mudaria no dia seguinte. Quando ele saiu, ela sentia-se feliz. Arranjara forma de ter um dinheiro todos os meses, que lhe ia dar muito jeito, bem como a companhia de um homem simpático. 

bottom of page