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Crónicas do Meu Outro Eu - vol. 3
Experiências de dor e de prazer

O terceiro volume do Crónicas do Meu Outro Eu mergulha em algumas experiências inseridas no mundo do BDSM (Bondage, Dominação e Sado-Masoquismo). Confesso que é um mundo pelo qual até há pouco tempo nunca experimentara nenhum fascínio em especial. Daí que, durante anos, tenha vivido inúmeras experiências sexuais mas sempre afastadas dessa vertente. A dor era algo que nunca encarara como podendo estar ligada ao prazer e, nesse sentido, o BDSM era um universo pouco entusiasmante.

As coisas mudaram quando conheci um casal que me desafiou a experimentar algumas práticas até então por mim desconhecidas. Quando falamos de BDSM estamos a falar num universo gigantesco em que cabe quase tudo, desde atividades mais soft até situações de dor ou humilhação extrema. Não sou, decididamente, fã de situações que impliquem sofrimento profundo, mas nesta viagem que acabei por fazer percebi que o prazer pode misturar-se com alguma dor e provocar uma combinação explosiva!

Alguns capítulos são acompanhados de fotos feitas no momento. E no último capítulo é apresentada uma galeria fotográfica com algumas das sessões BDSM em que mergulhei.

"A Lady Anna e o Conde"

Nas semanas seguintes fomos várias vezes ao Espaço Seven e criámos uma relação muito agradável com os dois massagistas. Ficámos a saber que eram os gerentes do espaço e, como não podia deixar de ser, a conversa acabou por abordar o tema do sadomasoquismo. 

Contaram-nos que frequentavam determinadas festas privadas onde as práticas de BDSM eram comuns. Essas festas ocorriam quer no próprio Espaço Seven, quer noutros locais. A pouco e pouco fomos conhecendo algumas histórias de um mundo que se nos foi revelando. E à medida que a confiança entre nós ia aumentando, um bichinho da curiosidade impregnou-se em mim e no Jorge. Eles começaram a desafiar-nos para fazer algumas experiências, nada que fosse muito doloroso. Foram-nos apresentando propostas e eu dei comigo a pensar que algumas delas até tinham uma carga erótica interessante.

Depois destas conversas a quatro, eu e o Jorge começamos a procurar informação sobre o tema na net. Eu tinha sérias dúvidas que conseguisse retirar prazer de uma situação em que a dor estivesse presente, mas a verdade é que havia todo um mundo de alternativas que pareciam bastante sugestivas…

E chegou uma altura em que acabámos por decidir experimentar! Quando revelámos a nossa intenção aos que iriam ser os nossos “padrinhos” na entrada neste mundo, eles colocaram-nos totalmente à vontade. Uma das coisas que era óbvia para mim era a necessidade imprescindível de haver total confiança com as pessoas que iriam ser os nossos “mestres”, a Lady Anna e o Conde. E quanto a isso estávamos descansados, pois desde o primeiro dia que tínhamos criado uma relação muito engraçada com eles. Submeter-me a uma outra pessoa sem confiar nela era impensável para mim.

Fomos esclarecidos sobre regras. Quem estava no papel de submisso tinha o poder de parar a qualquer momento, caso não quisesse continuar. Essa era a chave de tudo. E antes de cada sessão podiam estabelecer-se os limites intransponíveis que o dominador ou dominadora se comprometia a não violar.

Naquele momento, lembro-me que sentia algumas sensações contraditórias. Por um lado o fascínio de experimentar algo de novo e transgressor excitava-me; mas o receio de passar por uma situação envolvendo práticas dolorosas continuava a ser estranho e, julgava eu, pouco compatível com sensações de prazer.

- Para estreia, tem mesmo de ser uma coisa muito muito suave! – referi quando decidimos que o passo seguinte seria definir exatamente o que iria acontecer.

Ficámos em silêncio alguns segundos, até que a Lady Anna falou.

- Tens alguma roupa de colegial? Uma coisa que pareça a farda usada em algumas escolas, com saia curta em xadrez e uma blusa branca…

- Tenho! – respondi. 

- Ok. Então podemos combinar uma primeira sessão em que tu te vais vestir dessa forma. Vamos fazer uma simulação em que vais ser a aluna e eu vou ser a professora… e tu vais ter de ser castigada por te teres portado mal!

Não pude evitar um sorriso.

- Não vai haver muita dor. Vamos fazer apenas uma sessão em que vais ter de te colocar no papel de alguém que tem de ser castigado e, no máximo, recebes umas palmadas levezinhas. Pode ser?

Engoli em seco. Bolas… a ideia tinha-me provocado um arrepio agradável pelo corpo!

Acabei por responder:

- Pode…

"Pingos de cera quente"

A sessão com a Lady Anna em que fiz o papel de aluna malcomportada teve o condão de me deixar com vontade de experimentar mais. Por isso, quando recebi o desafio de ser submetida a uma sessão em que o meu corpo fosse coberto com pingos de vela quente, a dúvida instalou-se. 

- Cera quente a cair no meu corpo?

- Sim! – respondeu a Lady Anna com aquele seu sorriso desarmante.

- Mas isso não dói?

O silêncio que se ouviu durante alguns segundos foi bastante elucidativo sobre qual a resposta à minha pergunta. 

- Qual é a tua tolerância à dor? – perguntou-me a Lady Anna.

- Bom… acho que tenho alguma tolerância… mas nisso não vai fazer com que fique com queimaduras no corpo?

- Não! Ficas com umas marcas avermelhadas. Há uma dor associada ao pingo quente a cair na pele, mas é uma dor suportável.

Olhei-a imaginando que ela já estava a antecipar o momento em que me fosse verter a cera quente em várias zonas do meu corpo.

- Mas a ideia é pores-me a cera em todo o corpo?

- Sim… a não ser que tenhas alguma reserva e queiras colocar limites. Mas a proposta é mesmo em todo o corpo.

Senti um arrepio ao imaginar a sensação do calor em áreas como os meus seios ou a zona genital.

- Durante a sessão podes sempre pedir para parar. Já sabes que és tu que controlas tudo. Mas eu tenho a certeza que não o vais fazer e vais querer que eu te percorra esse corpinho todo.

Ela falava com um tom convicto, como se estivesse absolutamente certa de que eu iria gostar. E a verdade é que na experiência anterior ela me tinha deixado completamente excitada. 

- Ok… aceito!

- Muito bem! Temos aqui uma mulher corajosa!

Olhei para o Jorge que me sorriu. Era evidente que ele gostava de me ver como submissa. E eu percebi que gostava que ele me visse assim.

Combinámos então a sessão. Nos dias que a antecederam dei comigo a pensar várias vezes se iria gostar. Tinha algumas dúvidas, pois ao contrário do que acontecera na situação anterior, aqui iria ser confrontada com uma dor mais intensa, sempre que uma gota a ferver pingasse na minha pele. Mas a vontade de experimentar sobrepôs-se aos receios, e o dia chegou.

O Lady Anna e o Conde prepararam o ambiente do Espaço Seven. Algumas essências ardiam, fazendo com que um agradável cheiro adocicado pairasse na sala. Uma música muito suave bailava com esses odores, criando a atmosfera propícia ao relaxamento necessário para embarcar nesta aventura. Despi-me totalmente e deitei-me na marquesa, de barriga para cima. O Conde acendeu uma das velas e passou-a à Lady Anna.

- Vais sentir que o calor varia de vela para vela. As mais escuras são as mais quentes. Se achares a dor excessivamente forte com alguma delas dizes-me ok?

- Ok! – respondi.

"A múmia"


À medida que as minhas incursões neste mundo da BDSM iam acontecendo, comecei a picar o Jorge para que também ele experimentasse alguma situação às mãos da Lady Anna e do Conde.

Inicialmente ele mostrou-se relutante, mas eu fui insistindo e acabei por convencê-lo. Falámos com os nossos “mestres” e eles ficaram de preparar uma surpresa. Desta vez, eu ficaria de fora a assistir, posição que me agradou. 

Eles não revelaram o que iriam fazer, por isso, no dia em que nos deslocámos ao Espaço Seven, o Jorge ia assim meio a medo. Eu bem que me metia com ele mas percebia o que ele estava a sentir. De qualquer forma, ambos sabíamos que não aconteceria nada de muito doloroso e que a qualquer momento se podia parar com a situação.

Quando entrámos a Lady Anna estava com aquele sorriso de menina traquinas preparada para se divertir à grande! O Jorge percebeu isso mesmo, aliás era sempre visível o gozo com que ela assumia o papel de dominadora!

Depois de umas palavras de circunstâncias a Lady Anna explicou-lhe o que iria acontecer.

- Já ouviste falar em múmias?

Ele abriu os olhos, espantado.

- Claro! Porquê?

- Porque te vou transformar numa múmia!

Soltei uma gargalhada ao ver a expressão assustada dele.

- Tem calma que não vou precisar de te matar! Isto da múmia é uma coisa comum no BDSM, no fundo é enfaixar alguém com um determinado material, fazendo com que a pessoa fique presa e incapaz de se movimentar. Quando digo enfaixar alguém, é mesmo o corpo todo, incluindo a cabeça!

- E que material é esse? – perguntou ele.

- Vou usar aquele plástico aderente que se usa para embalar alimentos, conheces?

- Sim.

- Ok! Então vais despir-te completamente e depois deixas que eu trate de ti!

Ele começou a tirar a roupa, enquanto ela foi buscar um rolo de plástico aderente e o observava. Quando ele ficou totalmente nu à sua frente, o Conde trouxe uma venda que entregou à Lady Anna.

- Vou tapar-te os olhos. A partir daí, não verás nada do que se vai passar. Vai haver um momento em que terás de suster a respiração, pois irei passar o plástico em frente à tua boca. Nessa altura, não vais conseguir respirar. Mas não te preocupes, são apenas uns segundos pois eu abro um buraco no plástico. Depois disso já podes voltar a respirar normalmente.

Ele olhou-a durante uns segundos. Pensei como no BDSM as pessoas se colocavam totalmente nas mãos dos outros, mesmo com perigo de vida. Tapar a boca a alguém com plástico aderente poderia provocar asfixia caso a situação se mantivesse por muito tempo. Ambos sabíamos que podíamos confiar na Lady Anna, mas a verdade é que ela teria a vida dele nas mãos durante alguns segundos.

Depois de o vendar, começou a passar o plástico em volta do corpo dele, começando pelos pés. A pouco e pouco todo o seu corpo começou a ser enfaixado, imobilizando-o.

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